AMOR SEM FIM
Nesta rua eu te vi nascer.
E, menino, teus primeiros passos amparei.
Nesta rua, quantas vezes parado fiquei,
A bola de lado, sentado na calçada,
Extasiado de admiração por teu sorriso,
Criança a pular amarelinha e brincar de roda,
Rodando ligeiro, o tempo passando,
Na roda da vida.
Nesta rua eu te vi crescer,
Deixar de usar tranças, soltar os cabelos,
Pôr sapatos altos e talhar o corpo,
Transformar-se em mulher.
Nesta rua, de paralelepípedos incertos,
Numa noite fria de São João,
Próximos à fogueira, olhares brilhantes,
Após dançarmos juntos a primeira dança,
Te dei meu primeiro abraço,
Sentindo que serias minha.
E na soleira da porta, te beijei.
Mas o tempo veio qual furacão
Lavando teus passos longe de mim.
A rua perdeu o brilho
E a fogueira de São João já não aquecia
Meu coração,
Meu corpo gélido e só.
As cartas diárias
Tornaram-se escassas... emudeceram.
Você fez sua vida, mudou seu destino,
Me esqueceu...
Enquanto eu fiquei aqui,
Na penumbra desse caminho,
Alimentando a ilusão da sua volta,
Me sustentando na esperança
De, por um segundo, cruzar seu caminho,
E ainda nesta pequena rua,
Onde te vi nascer,
Acompanhei teus passos,
Te perdi,
Que hoje, já de rugas no rosto,
Marcas do tempo...
Cansado da vida,
Dessa esperança que jamais deixei,
Próximo à fogueira de São João,
Te reencontro,
O mesmo sorriso,
Não sei que dizer...
Te amo... te sinto em mim...
Nada mudou...
Posso morrer tranqüilo, feliz,
Porque sinto...
Sei que agora, realmente, você é minha.
A rua é a mesma.
As casas... nada mudou.
Os paralelepípedos continuam incertos,
Na certeza de que não há solidão,
De que, enfim, trilhamos o mesmo destino.
(do livro ÊXTASE)
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